Treta (imaginária) no parque
8 de agosto de 2013 | Publicado por Camila | Categorias: delírios
Dia lindo de verão, coloquei a cria no carrinho e fui passear no parque. Chegando à área destinada às crianças pequenas, avistamos uma série de pitocos remelentos se revezando entre descer na escorregadeira e comer areia.
Minha filha ama o balanço e quer testar todos. Afinal, vai que esse voa mais alto que aquele? Ficamos nesse vai-e-vem até que do outro lado do parque, uma casinha com mesa e bancos lhe faz um convite irrecusável. Chega de se balançar.
Nina sobe, então, os dois degraus que a levam ao “imóvel”, e se depara com três meninas que já brincavam por lá. Uma com pouco mais de 1 ano, outra com seus 2 anos e meio e a mais velha que deve beirar os 4. As três estão sentadas e Nina as observa de pé.
Um menino, também passado de seus 3 anos, chega gritando e tenta sentar junto delas, no que é imediatamente advertido pela mais velha: “ei, você não pode sentar aqui. Se quiser sente lá do outro lado (num banquinho isolado)”. Ele questiona sem muita força, com ares de vencido: “por que?” “Porque está chovendo e eu estou protegendo a nossa casa”.
Eu fiquei com cara de “oi? Mas o bichinho não deveria poder entrar justamente porque está chovendo?”. Mas como aquilo pareceu fazer sentido para ambos, tanto que ele sentou longe e mudo ficou, eu tentei fingir que aquele diálogo foi normal. E, não, não estava chovendo.
Menino domado, a mais velha prossegue preparando uma panqueca. Cada vez que ela abaixava para pegar areia no chão (o ingrediente das panquecas), a de 2 anos e meio desfazia tudo, aos risos. Chateada, a cozinheira dizia: “não tem graça! Pare com isso! Você não tem direito de mexer na minha comida”.
Minutos depois, o menino se mexe de leve em seu banco (sei lá, talvez tivesse entrado muita areia na roupa e ele só estava tentando espanar o fiofó), no que a menina retruca secamente: “sente aí. Fique aí”. E o menino sentou.
Depois de muito observar a cena, Nina tenta mexer nas panquecas, sendo imediatamente repreendida pela cozinheira. Para que a terceira guerra mundial não fosse deflagrada num parque infantil na pacata Montreal, eu pego areia e folhas do chão, coloco na mesa e começo a brincar com a pinduca: “vamos, filha, vamos preparar uma omelete de espinafre para todos”.
Quando começamos a preparar tudo, as duas mais velhas retrucaram: “ah! Mas ela não pode cozinhar. Aqui é a NOSSA casa! Ela só vai brincar se a gente deixar”. Ao ouvir isso, confesso que mentalmente criei um diálogo com elas no qual dizia coisas maduras tipo: “oxe! Cês tão malucas, é? Se essa casa é mesmo de vocês, cadê a escritura? Cadê??????????? Aliás, minha filha, isso aqui nem casa é. Me poupe! Isso é um parque, par-que! De modos que o espaço é público e todo mundo pode entrar a hora que quiser. E essa bosta de panqueca que você tá fazendo tá um horror. Tá queimando, cê não tá vendo? Ninguém vai querer comer essa merda aí. Aliás, isso é areia, minha filha, areia, OK? E pára com esse negócio de ficar dando ordem em todo mundo. Que saco!”
Mas aí eu lembrei que era a única adulta ali (e pior: mãe!), que deveria agir como tal e apenas fui jogar bola na grama com minha filha, que nem se importou com o despejo.
5 comentários em “Treta (imaginária) no parque”
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Keiko Disse:
8 de agosto de 2013 às 15:35Conflito de gerações, versão primeira infância… Já vi a Nina de cá (que é invariavelmente a chefe/dona da casa/professora/motorista/Hitler na escolinha), sendo mandada pro cantinho pelas amigas apenas 1 ano mais velhas. Assim como ja a vi defender os amiguinhos 1 ano mais novos que ela, contra imperadores mais velhos… e eu tb já dei muito sermão imaginário em criancinhas que parecem inofensivas, essas farsantes…
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gabriela de andrade Disse:
8 de agosto de 2013 às 16:05Incrivel como todas as maes sentem a mesma coisa né? Mandou bem na treta, disse poucas e boas, ela bem que merecia! Ai ai ai…
(to de cara com a quantidade de nome pra escorrega…. Vc, bahiana, fala “escorregadeira”, batone, paulistano, diz “ecorregador”, eu, carioca, digo “escorréééga”, com acento molinho no “e”. Será que tem outras nomenclaturas pelo Brasil?)
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Camila Disse:
8 de agosto de 2013 às 16:15Miguxa, tô esperando o dia em que Nina vai trocar de lugar e ser a “chata”. Juro que vou me sentir muito pior.
Gabiru, gostei mais da versão carioca hahahah
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Flavia Disse:
8 de agosto de 2013 às 19:04Desculpa, mas quebeca mandona é o que nao falta aqui nesta Montreal velha (e casada) e guerra…kkkkkk
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Alayde Disse:
12 de agosto de 2013 às 10:55Oi Mila,
Adorei. Faço isso direto quando estou com Rafinha. Uma VONTADE de pular na criança que tá querendo se meter a besta com meu filho e brigar com ela. Só que lembro que sou a ADULTA…e que os outros são crianças..